Daquilo que não é

por Alexandra Deitos
A lente esquerda do óculos dele estava levemente trincada. As letras do papel perdiam o sentido e transformavam-se rapidamente em curvas de um corpo colorido na baixa luz. A cabeça começou a doer e ele tirou o óculos, mas em meio aos borrões o corpo apareceu ainda mais definido e próximo. Em inútil tentativa ele fechou os olhos. Aquele corpo estava dentro dele como jamais nem ele havia conseguido estar dentro de si próprio. Começou a desejar não desejar, e com toda a inutilidade da utilidade continuou padecendo.

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2 comentários

Leco Vilela outubro 11, 2010 - 2:29 pm

Palavras imagéticas.

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Sujeito Oculto outubro 7, 2010 - 8:04 pm

padeçamos todos, pois o desejo deve ser desejável e a dor doída. Embora arda.

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