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Minha infância foi dentro de um movimento separatista, nunca anunciei em nenhum currículo. Os ideais não eram meus, mas de meu pai, motivo mais que honesto para uma criança em fase de formação. Aprendi cedo algumas coisas, o ao vivo e a cores batendo na porta, grampeando telefone, fazendo quizumba. Cresceu, enfraqueceu, permaneceu, e ainda assim, não venceu. Não revolucionamos nenhum país, mas nos revolucionamos. Conhecendo o oponente o jogo ficou mais honesto.
Optei por novos meios de luta. As ruas? Nunca deixei de frequentá-las, e de quebra avancei país adentro. Mantenho-me consciente, atenta, alerta. A conquista? É construída no dia a dia, nas miudezas, com objetivo e paciência. Apoio algumas grandiosas, mas acredito e me dedico pelas pequenas.
Neste ano, diante da polvorosa manifestação brasileira, revisitei minhas convicções, meus objetivos e minha luta. Encontrei-me feliz com os meus ideais, e não fui as ruas, embora pudesse ter ido. A luta? Apoio e estou presente, mas a consciência requer muito mais (muito menos) que cartazes e bandeiras, que passeatas e demarcações de fronteiras. Fico feliz com os debates que se promovem e as pessoas que se questionam, mas tudo aquilo que vivi na infância ainda existe e me deixa triste. Eu continuo percorrendo as ruas esquecidas através do dia a dia que ninguém quer, nelas a revolução se dá com bem pouco e a felicidade alimenta bem mais.