Infinitos

por Alexandra Deitos

A – Você já comeu o amor? Qual o gosto?
E – Comi uma única vez e não me lembro.
A – Eu não sei se comi o amor.
E – Não?
A – É… Não tinha rótulo, sabe?
E – Não deveria ter mesmo.
A – Mas… Sem rótulo, como saber o que estou comendo?
E – Paladar.
A – É?
E – O gosto era de arroz doce com canela, pensei que o amor podia ser isso e pronto.
A – Hum. Canela tem gosto de terra, amor não é terra.
E – Claro que é.
A – Então o que eu comi não era amor mesmo.
E – Pode ser que o amor que eu comi tinha gosto diferente do seu amor. Pode ser não, de fato é assim: único.
A – Então o amor é como roupa de grife?
E – Não sei… Pela pirataria é bem provável.

A – Descobri! Eu não comi o amor: eu bebi!
E – ?
A – Feito lagoa. Com chão turvo, hora mar, hora rio. Bebi tudinho!
E – Deve ter passado mal com tanta água.
A – …
E – …

A – Sabe que ando bebendo mais água?
E – Metaforicamente?
A – Não. Na real. (mostra um copo cheio de água com peixes desenhados no vidro) Medo de sentir aquela dor no rim…
E – O medo move tudo.
A – Menos o amor.
E – Certeza?
A – O amor é próprio: só e independente. Sem rótulo, não espera nada… nem ser reconhecido… logo me parece bem destemido!
E – É?
A – É!
E – Destemer não significa que o medo não mova.
A – …
E – …
A – Nunca chegamos a lugar algum.
E – É bonito isso.
A – O quê?
E – Não chegarmos.
A – (Bebe toda a água do copo) É bem bonito, mesmo com medo.
E – Mesmo.

Deixe um comentário

1 comentário

Sujeito Oculto agosto 14, 2010 - 10:47 pm

É bom bonito tudo isso. Mesmo.

Responder

Você pode gostar