Breviários de vida e morte

por Alexandra Deitos
Em menos de um mês recebo a segunda ligação noticiando falecimento.
A vida é frágil, seja nos seus 90 ou 30 anos – um arranhão em bexigas de aniversário. A falta de vida pode ocorrer muito antes da real falta de batimentos cardíacos, assim como também depois de um coração parado ainda pode pulsar muita vida.
Recebo as notícias sem saber o que fazer com elas. Sem saber onde acomodar, sem saber o que sentir. Por vezes sinto antes o acontecer sem saber, em outras sinto e nem demonstro e na maioria nem sei o que sinto. Talvez eu me conheça muito pouco mesmo.
Eu sou estranha!
Eu tenho medo de usar a expressão eu sou assim. Eu acho que nós como pessoas somos (ou deveríamos ser) tão mutáveis quanto o mundo. Ou talvez seja puro medo de confirmar ali na afirmação a própria negação: sou desconhecida de mim mesma. Que dirá então o quanto sou desconhecida de meus próximos…
Diz a máxima quem parte é logo esquecido, mas há tanta gente que não parte e também é logo esquecido, assim o contrário torna-se sempre verdadeiro também – de tudo. Não existem verdades absolutas. A vida dança na corda bamba, sem sombrinha, olhando para trás e rindo da platéia estarrecida.
Hoje eu abreviaria a vida sem motivo algum, o motivo é sempre uma desculpa qualquer mesmo. Hoje eu continuaria a viver sem motivo algum, o motivo é sempre uma desculpa qualquer mesmo. Falar isso com certeza acarreta infindas lições de moral e blá blá blás, porque ninguém consegue entender que não desmereço nada… a vida não necessita de floreios para existir ou deixar de existir. A vida pela vida e a morte pela morte, transpostas além das fugas, das culpas e das politicagens.

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1 comentário

Sujeito Oculto agosto 1, 2010 - 10:05 pm

Eu gostei desse principalmente pela parte que coloca a questão de necessidade de algo para ser ou não ser. Pois bem, vivemos porque temos muito o que fazer, morremos porque não nos sobrou nada a fazer. E o resto? Afinal, eu pulo corda pelo prazer-em-si que essa atividade proporcionar-me-á (ou eu deveria assim fazer…) E por que quando morro, não morro pela morte-em-si? Por que quando vivo, não vivo pela vida-em-si, e pelo prazer que essa atividade pode me proporcionar?
Isto ocorrer ainda mais friamente quando nos tornamos adultos, quando temos que "trabalhar para ganhar dinheiro", "estudar para passar no vestibular", "ter dinheiro para pagar as contas da casa"… As coisas-em-si parecem sumir.

Bom, podemos argumentar sobre isso por uma infinidade de tempo, o importante é que tenha feito. Já alcançou algo em si.(?) Rs.

Boa semana!

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