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Os toques, os beijos, a contemplação… tomando proporções maiores, maiores e maiores. O minuto que não te vejo transforma o tempo em imensidão, e quando o tempo que te vejo não é nosso uma estranha saudade fica. Eu quero te olhar, quero conversar, quero amar, quero te fazer bem, mas há um cansaço que me vence e me desfalece quando eu deveria jamais dormir na tua presença, há também um silêncio que se faz maior quando você diz que lindo é resposta pouca, porque para mim lindo é tudo aquilo que é muito maior, inominável. E eu fico com medo. Medo do gosto ridículo que é o adorar. Medo do seu riso maduro da minha meninice desconcertante. Talvez medo comum que uma paixão causa antes de transmutar-se em amor. Ou então, o medo do vislumbre de uma construção que se prenuncia avassaladora. Mais sensatamente talvez o medo venha da insegurança diante da felicidade do hoje não eterno. E assim faço palavras num papel… onde tudo é sensação, mas também onde o sentir mais puro ganha um quê de materialidade, porque eu não sou poeta, nem poetisa, não tenho títulos, não manejo bem as palavras, mas uso-as como flores que nascem das sementes de sentimentos que chuviscam de dentro de mim. Esse mim do qual você disse alguma coisa que eu não compreendi bem ainda… e como ainda não soube te dizer quem é o você que eu vejo. Mas sentir, simplesmente sentir, é tudo o que pode ser salvo sempre, porque as questões existenciais chegam no tempo preciso. O universo é um todo só… e a gente deixa a complexidade movimentar a roda simples – e então: o mundo fica de um tom lindo!