Sobre uma admiração

por Alexandra Deitos
Ok. Eu relutei muito tentando evitar escrever aqui sobre a noite que encontrei Humberto Gessinger.
Inútil, não vou conseguir. Cá estou para tal. Ao menos não vou expor os três textos que foram tomando vida própria, vômitos das catarses que fui sofrendo. E ainda haverá muitos mais, como uma digestão lenta e propulsora. O intrigante é que falando assim parece ter sido uma experiência no mínimo negativa enquanto que na real: de um modo estranho [boa sensação estranha] foi uma das melhores coisas que já me aconteceu.
Li o livro dele, coisa que eu não fazia nem muita questão. Nos últimos tempos eu estava bem distanciada daquele que tinha sido “o cara foda” dos vários devaneios da minha mente inquieta. Sabe aquele lance de você idealizar alguém e aí uma hora você raciocina e fala “Não deve ser tudo isso. Deixa eu parar enquanto ainda não me decepcionei.” E veja só, depois desse longo período de abandono eu reencontrei-o: exatamente como havia deixado.
Eu estou longe de ser uma fã. Ou talvez até seja. A questão é que minha admiração transcende a música, quesito que por sinal sou uma completa analfabeta e ainda por cima ignorante. Eu parto para o caráter idealizado, fico naquelas de divagações, idéias de espelhos e super-heróis, ou mesmo tomo tudo como poesia. Ele é o que é. Poderia ter qualquer profissão, músico, ator, engenheiro ou outra qualquer, continuaria sendo o que é. E eu gosto de brincar com essa simplicidade complexa.
Minha linha de raciocínio nunca é muito lógica por tanto tempo. Então: ponto. Termina aqui o que talvez fosse necessário falar.
Segue aí um trecho do livro, não o mais interessante, mas aquele que o acaso mandou:
“A pergunta que acho mais chata, nas entrevistas, sempre é feita com a melhor das boas intenções: “O que estás ouvindo?”. Que diabos isso que dizer? Querem saber de fato o que está tocando no meu aparelho? Querem saber quem eu acho legal? Querem saber quem é que eu quero que as pessoas pensem que eu acho legal? Querem saber o trabalho de quem eu gostaria de imitar descaradamente? Não é bem assim. Como o caráter autobiográfico, a influência não é linear. Ela é processada. A gente ouve um tango e escreve um rock pesado. A gente lê um poema e faz musica instrumental. Leonard Cohen te leva a um frevo, e um samba da Mangueira te traz um réquiem.”

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1 comentário

Leco Vilela março 20, 2010 - 1:54 pm

adorei esse trecho

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