Alexandra Deitos
Alexandra Deitos
Nasci numa cidade interiorana do Rio Grande do Sul, onde vivi os primeiros anos da minha vida até terminar o ensino médio. Então, ainda menor de idade, saí de casa e vim parar na cidade de São Paulo, onde estou até hoje. Na área das Artes e Design me formei Bacharel em Têxtil e Moda pela Universidade de São Paulo | USP e Atriz pelo Teatro Escola Macunaíma, entre outras pequenas formações aqui e ali. Atuei na cena cultural através de projetos de light design e traje de cena por mais de uma década, quando inesperadamente me encontrei no caminho com o mundo canino. Estudei Comportamento Animal e o uso de metodologias educativas com enfoque Positivo e de Bem-estar Interespécies com Dante Camacho, Tudo de Cão, Universidade de Edimburgo, entre outros. Fundei a Pompom's House. Um espaço de hospedagem, convivência e socialização canina, onde, no momento, exploro minha experiência em Educação e Comunicação Canina, Manejo de Grupo e Diretrizes para Sociabilização. Você pode me conhecer de um desses períodos da minha vida. Ou, ter acabado de saber da minha existência nesse mundão. Não importa. Fico feliz que estejas aqui, e espero que algo do que eu compartilho seja troca e partilha contigo.
Trechos de textos dentro de textos, ou trechos do encontro de Eduardo Giannetti, Diderot e Nelson Rodrigues
Extraído do livro Auto-engano, de Eduardo Giannetti
A moça enquadrou-se na janela.
E chorou.
Ela sabia que o filme era apenas pretexto.
Mas a moça era crítica demais.
Até a janela ela tentava convencer,
Que não havia nada que doesse.
De fato era só o filme.
Só isso.
Nada mais.
E depois, horas depois, a moça sentou-se.
E sorriu.
Ela sabia que a alegria sempre parece mais distante.
Mesmo assim quase podia tocar.
E a moça, crítica demais,
Não pode aceitar que sorria de simples felicidade.
Só isso.
Nada mais.
Vivia assim, embora talvez nem se desse conta.
Oscilando entre extremos de sua vida transbordante.
Sofria com gosto o seu sorriso.
E alegrava-se com seu choro fino.
Só isso.
Nada mais.
… nada acontece verdadeiramente se não for descrito (…) algo interessante acontece todos os dias…
Mais ou menos assim terminava uma breve biografia de Virginia Wolf contida nos extras do filme As Horas. O impulso foi vasculhar a estante em busca de algum resquício de diário.
Um desgosto pelas pessoas que me secaram, recriminando (xeretando) as coisas que escrevia… eu… era minha vida, era eu. eu. eu. eu. na minha mais pura essência.
Escrever talvez seja como fumar um cigarro, como fazer sexo, como mascar chiclete, como ir para a guerra – só se quer uma coisa: respirar! expirar e inspirar alguma coisa palpável de si mesmo.
Ele me sorri todas as manhãs!
Nós temos um pacto:
um sorriso e um beijo de bom dia,
um sorriso e um beijo de boa noite.
Confesso que fujo do melodrama
e não cumpro.
Talvez dentro de 10 anos
teremos uma conversa sobre isso.
Ele compreenderá.
Como espelhar um super herói
construiremos nosso contato diário,
agora real.
Poderei ter desperdiçado uma infância,
e perdido um grande irmão.
Um grande amigo,
isso só dependerá da construção
no agora do futuro!
Uma palma interrompida. O rapaz caminhava trocando causos com a pessoa que ia ao seu lado. Preparou o corpo para ilustrar a conversa com uma palma. Uma pessoa vinha no sentido contrário. O exato instante da palma coincidiria com o exato instante do cruzamento dos dois fluxos. E num reflexo, talvez, o rapaz conteve seu gesto em um possível segundo. Não houve a coincidência, evaporou no exato instante da percepção. Seria isso um fato racional?
Eu tenho perdido o melhor de mim. Em cada reflexo que a percepção gera, surge a dúvida do que se perde. Em cada estimulo de pensamento, tenho perdido mais de mim mesma. Embora a lógica afirme que eu esteja ganhando. Não tem sentido.
A Senhora Dona da Verdade tinge os cabelos, escondendo o rosto atrás deles. Ela é uma personagem, oposta a tudo que realmente é. Inteligente o suficiente para se dar conta do que é, do que pensa que é, e do que não é. Mas ela tem medo, ao que tudo indica, embora também tudo indique muitas outras coisas também. Eu conhecia a personagem dela muito bem. Eu era parte do coro dos contentes que cantavam honrarias em sua homenagem. Mas esse é o problema ao se assistir muitas vezes o mesmo filme, muitas vezes a mesma peça, muitas vezes a mesma canção. Partimos para extremos inevitavelmente.
Eu tenho perdido o melhor de mim. Em meio a 23* pessoas, eu consegui enxergar a existência de pessoa e personagem naquela que falava. A percepção não deu fim na coincidência. Em muitas pessoas ali eu senti que também elas têm perdido o melhor de si mesmas.
* usei esse número em específico por ter sido mencionado numa palestra dias antes, talvez faça algum sentido para mim.
Cheiro de iogurte. Cheiro de camomila. Cheiros de inverno.
A rádio toca melodias de primavera, mas estamos no verão.
Às vezes eu vejo a cidade passando lentamente. Eu gosto.
Não desmereço o cinza. Não ignoro as manchas na fotografia.
Ventos de outono assobiam como crianças num pátio colorido.
Nada de isto ou aquilo, nenhum dilema. Algumas somatórias.
O telefone toca quando é preciso. O azul pode ser verde.
Sabor de simplicidade. Sabor de infinito. Sabores das estações.
Perdão.
Numa noite qualquer de confuso glamour.
Estando-se precavido para o combate, haverá combate.
Com a pertinência que certos aforismos nos dão.
Eu respirei uma palavra.
Perdão.
Perdão por respirar.
Eu aspirei e expirei, e eu expectativei.
Sempre o insistente.
Perdão.
Falta de opinião diante de todo o imediato.
Falta de perdão no confuso glamour do aforismo combatente.
Com a pertinência do que é relevante.
Perdão.
Alexandra Deitos