Entre muitas coisas

por Alexandra Deitos
Muitos acontecimentos num dia, numa semana, num mês, num ano, numa vida. Somos frágeis e o tempo é muito breve, sempre muito breve. As coisas não param de acontecer. O mundo não pára, Cazuza disse milhões de vezes, ou disse uma só vez mas ficou ecoando no mundo que não parou. E o Raulzito apenas sonhou com o dia em que a Terra parou, embalando muitas e muitas noites e dias que recomeçam sem findar, e aquele tal filme de mesmo nome eu nem cheguei a assistir… Inerente, tudo continua aí, acontecendo afobadamente, enquanto a gente fica andando por cordas precipiciais apertando ou diminuindo o passo com a vida, com o mundo, com o tempo, com os acontecimentos – tudo assim ao mesmo tempo. Por vezes tenho a impressão egocêntrica que só a mim que a vida insiste em atropelar, com rolo compressor e tudo, e como num desenho animado eu tenho que pegar um fole e me recompor rapidinho porque o Papa-Léguas não pára.
Agora o que isso tudo tem a ver com o Eugênio Barba e Júlia Varley, não pergunte ao meu racional porque ele deu uma saída e foi procurar o analista (aquele que está passeando na Europa). Sei que “o texto é um tapete que deve voar longe” e a voz de fumaça subindo me levou voando não sei nem para onde. Havia uma imagem linda de uma água subindo, subindo, subindo até o pescoço – não era tão linda assim na descrição, mas me remeteu a sensação da água que me levou embora naquele “exercício xamânico”… e sei lá… misturou tudo, assim como numa batedeira a todo vapor, processando a mulher-batedeira, a Clarice, o Caio, a Hilda, a Nora Boneca, o Dr. Rank, o Lanterna Verde, e tive a certeza que a Alexandra não existe, ou se existe é tão partícula da partícula que pode ser tudo e tudo pode se nada. Sempre nada e tudo, tudo e nada.
A perda da identidade individual pode ser um ganho no processo de identidade coletiva e vice e versa, li isso em algum lugar que nem lembro, mas era algo a ver com o todos somos um… Dizem que a poluição informacional também existe, e a sensação é que viver na ignorância pode ser um meio de vida muita mais saudável e feliz. “Somos como bois marcados pela nossa cultura” e estamos cheios, agora como esvaziar ao ponto de abri-se para as novas percepções? Não há tempo para parar e armar uma estratégia (ou talvez até dê, mas sempre no estilo Coiote de ir a luta), não dá para chegar na papelaria da esquina e pedir a substituição do cérebro por um em branco, não dá ignorar a vida até ela ficar de bem com você, não dá para fazer um porrada de coisas, muito embora a gente viva se auto-enganando que dê. A sensação maior que tenho é que uma hora ou a alma não vai mais caber no corpo, ou se ela estiver pequena demais o corpo não irá querê-la.

as imagens presentes em ENSAIO AO ENGENHO, entre 2007 e 2014, são em partes de minha autoria e outras retiradas do google imagens durante o período citado. portanto, pode ocorrer que alguma imagem não esteja devidamente creditada. Assim, se você viu alguma imagem de sua autoria, ou sabe de quem seja, por favor, deixe um comentário ou entre em contato para que eu possa dar os devidos créditos ou então substituir a imagem, se assim for necessário.

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2 comentários

Leco Vilela maio 9, 2010 - 1:23 pm

… a alma é grande de mais pro meu corpo, meu querer é grande demais pra minha boca e por ai se segue num ciclo vicioso, numa história sem fim e sem dragão voador.

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Flor Baez maio 8, 2010 - 1:22 am

Oi Alexandra! Uma vez eu li em algum lugar (não lembro mais onde) que a vida passa depressa porque levamos nossa vida dessa forma! Somos apressados demais, impacientes e instantâneos. Eu acho que faz sentido, isso! Quando tiro férias do trabalho e vou pro meio do mato, fico sem internet, sem celular, sem televisão e o dia rende tanto! Demora a passar… Consigo acordar, comer, cozinhar, plantar, pensa, ouvir e o dia parece inerte!

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