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Tenho um grande amigo que sempre me fala do medo que se causa no outro, da inconsistência na falta de certezas, da precisão de atitude na criação do ambiente propício para o desenvolvimento dos quereres. De outro lado tenho uma grande amiga que me fala da beleza do não saber, do assumir-se em dúvida, do jogar-se no instante agora e viver tudo o que for possível, assumindo todas as dúvidas como parte das descobertas e das futuras certezas – se elas existirem um dia.
Tenho um outro grande amigo que me fala do amor, da entrega, do quanto tudo é especial e todos somos pessoas maravilhosas, carinhos saltando pelos poros e encharcando a alma, diz-me que todos somos pessoas querendo amar e querendo o amor como forma de transcender a própria existência. De outro lado tenho uma outra grande amiga que não me fala de sentimentos, que vive flutuante no ar que passa daqui para ali, não propõe conversas sobre o sentir e nem se expressa de forma avassaladora, mas não deixa de amar e ser muito amada de forma estonteantemente bela.
Tenho uma grande amiga que me fala duramente, não mede palavras e sua sinceridade é extraordinariamente crua, distribui sorrisos sinceros e por vezes me despende abraços nos quais ficamos perdidas da sinceridade que se constrói, como um algo totalmente palpável. De outro lado tenho um grande amigo e uma grande amiga que me enchem de confetes, de overdoses de sorrisos, de abraços e mais abraços efusivos, me cantam melodias, me falam de mundos maravilhosos, lindos e perfeitos, sempre estão a disposição para alegrar uma manhã cinza, um tarde carregada e uma noite infinita.
Repetitivamente digo que todos são grandes e importantes amigos. Acrescentam variações fundamentais na minha construção de vida, me confundem e me dão certezas, tudo assim ao mesmo tempo. Eles são um pouco de tudo e no fundo tudo de um pouco maior ainda, porque são pessoas, são humanos, são existências de um universo que é vivo e pulsa num só compasso. E eu amo, amo tudo, todos, desesperadoramente eu preciso dizer que os amo. Sei que vocês devem saber, mas às vezes é bom dizer. Eu, na verdade, amo o universo inteiro. Eles fazem parte do universo, o universo faz parte deles e eu estou ali fazendo parte de alguma coisa também.
Eu necessito amar… minha loucura é a mais sã de todas – se isso for possível. Todas as vísceras que insisto em expor, todas as frações de pessoas que eu sugo para mim, são de uma beleza que me cega, que me extasia de tanto sentir. Meu excesso de amor ainda vai me afogar friamente enquanto eu engulo todos os restos de amor que sempre sobram. Meu eu que reclama, que implora, que necessita, ainda vai me arrebatar num vendaval de furacão e sumir com minha existência. Minha ânsia de sentir ainda vai, em fogo brando, me matar um dia. A minha razão, de tanto brigar com as coisas etéreas presentes em mim, ainda vai me enterrar. Sem ar, sem calor, sem lágrimas, sem chão, sem vida não há vida, não dá para viver.
Sou pateticamente idiota quando escrevo, muito mais ainda quando escrevo no impulso do coração que palpita, da sensibilidade sensitiva, da angustia diante do vazio que transborda não se sabe cheio de quê. Na verdade, não há justificativas, eu sou sempre pateticamente idiota. Ridiculamente com meus excessos de vida não vividos.
Queridos, me perdoem por eu me perder tão facilmente dentro de mim, por eu me perder tanto dentro de vocês, amigos, e por eu ainda desejar me perder também dentro dos outros. Mais que tudo, me perdoem por eu pedir perdão… pela minha alma que pede permissão para passar…
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Fato!
"eu sou da lira não posso negar"
"O abre alas que eu quero passar!"