5 minutos para alguma hora

por Alexandra Deitos
Existem finais que não parecem finais e existem começos que não parecem começos. Existem histórias inteiras que não parecem histórias inteiras, existem meias histórias que também não parecem meias histórias. O nosso olho humano dilata e contraí com as intensidades de luz e na verdade é cego na maior parte.
Recolocar as pulseiras, os brincos, despender artimanhas para um crescimento rápido de cabelo… e aperceber-se em meio a isso vazia. Vejo cada colega no palco e cada rosto conhecido da platéia com meu sentimento inegável de apego, fugir disso seria existir num campo alheio ao viver – o desapego começa a parecer-me uma máscara para o desamor. Eu procurei negar a existência de vida ali, de amores vinculados às partilhas pequenas de carinhos e ódios de cada dia. Onde estive eu com a cabeça quanto tentei tamanha afronta com a vida?
“Pegue sol” alguém me disse, e passou-me que “eu não posso pegar o sol” logo em seguida “tudo é tão relativo, posso sim”. A realidade é isso: podemos tudo. Não se perder no poder de tudo que se pode é a grande ponderação necessária… o medo ajuda e atrapalha. Ponderação. – eu lido mal com ela.
Mas estava ali: o fim, o começo, o inegável apego. Milhões de histórias partilhadas, milhões de coisas inominadas, sentimentos em ponteiro de bússola desorientada. Eu engolia a vontade de ser segura de mim porque eu de fato não sou. Engolia o ego de ter certezas porque eu de fato não sei. Engolia o desespero de criança abandonada porque eu de fato sou criança que fugi de casa. E comecei a mastigar alguma coisa… remota, presente, futura.
Com meus cinco anos de idade o primeiro livro que li sozinha foi “O patinho feio”, eu chorei no fim enquanto minha mãe acudiu com um “boba, é só uma historinha… ele nem morre no final”. Na época só conseguia dizer “é muito triste ele morrer”, agora dei-me conta da grande tragédia: o pato que teve que se transformar em cisne – aquele que perde sua essência morre lenta e dolorosamente.
Eu não consigo estabelecer uma linha de raciocínio para falar destes quatro anos.
E pouco importa.
Toda essa (aquela) minha paciência é (era) uma profunda indisposição pra brigas, descobri isso não sei quando. Descobri tantas coisas, é até bobagem tentar falar das descobertas – eu não sei lidar com a maioria delas ainda. Eu sou muito nova. Eu sou isso. Eu sou aquilo. Eu não sou. Eu. Sou. Sou. Eu. Eu não sei. Eu quero saber. Eu sei. Eu não quero saber.
Respira. Sorri. Chora. Nisto podemos resumir uma vida… e será que os resumos são sempre entendíveis? E será que é preciso? Resumir? Entender? Viver? Perguntar?
Há milhões de frases, agora, como chamadas de comerciais perambulando pela minha mente. Resumos. Trailers. A vida que se fez nesse ciclo. As pessoas que contribuíram com esses textos de chamadas… ou ainda, sem palavras há os gestos – dizem que vale mais.
Eu aqui. Eu ali. Eu espalhada. Pessoas aqui. Pessoas ali. Pessoas espalhadas. Tudo junto num grande ponto que não sabe. Me dou a mão. Eu quero me saber mais próxima de mim, estar nua e consciente de mim mesma. Se eu conseguir digerir as descobertas, talvez, eu já me de por satisfeita – ou não, somos humanos eternos insatisfeitos. Mas segurar na própria mão pode ser bem reconfortante, olha para dentro sem o próprio engano de si pode ser uma boa pedida. Mastigar e salivar em maiores quantidades aguçando o paladar e digerindo com calma pode ser uma atitude. E se eu não conseguir nada disso, ainda assim estar presente no que eu sou mesmo sem saber. Porque eu sou tudo aquilo que eu não sei, e quero continuar a ser tudo aquilo que eu não saberei.

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1 comentário

Karine Melo julho 26, 2010 - 5:42 pm

Que lindo a forma de como você escreve.. seus escritos tem uma riqueza!

'Porque eu sou tudo aquilo que eu não sei, e quero continuar a ser tudo aquilo que eu não saberei.'

– nem eu!

beijos ;*

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