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O breu de um sonho vago interrompido por um braço que me enlaça no escuro do quarto. Um suor da história que não é, repleta de medos não-meus tão meus, eu já não sou aquela que simplesmente sentia, e até talvez eu nunca tenha sido. Enganei-me de minha própria liberdade enquanto escondia-me achando que desfilava. Assim, no encontro da concha esteticamente bela com paródias utópicas do mar, estatelei – o branco do olho vermelho, a pupila rodeada de verde-azul, o ritmar de milhões de corações descompassados, desnudos, diáfanos, falidos. Não era eu. Não sou eu. Não serei eu. Não-eu. Falácia.
Minha vida não-minha enquanto eu procuro não achar.
As formigas em círculos mortais e os macacos em imitações não evolutivas. As vidas codificadas publicando livros vazios. O cuidado que machuca e destrói mais que bombas atômicas. Os excessos de vida não vivida deixaram de ser o problema há muito tempo. O mundo expandido não foi o bastante porque a Lua não é Lua nas noites nubladas. Posso escolher a respiração ao meu lado, o palco pra vida, o sonho para o sono, o ar poluído, a beleza de beber o vinho só, a música que toca, a quem dar bom dia… mas nada disso faz sentido algum se não puder ser gritado debaixo da chuva e do sol, sem dores repartidas de um boi marcado em fuga, pelas linhas telefônicas em quilômetros e quilômetros de distância insignificante.
O mundo uma praia de nudismo, e se eu quiser me vestir que seja por mim.
1 comentário
Muito bonito, Alexandra!
Tem dias que tudo parece não ser, tudo parece feito de mentira, feito de plástico. Mas os dias passam…
Bjs