Da triste escolha de não sentir

por Alexandra Deitos
O elogio feito de palavras é geralmente um grande traiçoeiro, tanto quanto uma boa intenção é ainda mais perigosa que a pior das más intenções. Quando se perambula por palavras e ações, mentes e corações, é inevitável perder-se no obscuro abismo que nega a verdade e reafirma a mentira, sempre na maior das ingenuidades. Ainda assim, seguimos com passos incautos, porque há defesas que não queremos tomar e purezas que não podemos macular. Sabemos e preferimos não saber, ou não sabemos e preferimos saber, tanto faz, desde que possamos sobreviver ao bombardeio travado entre um eu e um outro, ambos solidários-egoístas, ambos solitários-companheiros. É o ápice da cumplicidade de guerra e sobrevivência que amortiza as feridas numa cruel matemática, onde quanto menos se sente mais se agradece e menos se deseja sentir.

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