NÃO SE SABE O QUÊ

por Alexandra Deitos
Ela precisava extravasar de alguma forma que não sabia algo que também nem sabia direito o que era. Passou o dia sozinha, pintando imagens na parede do quarto e trançando lãs num graveto circular que por fim resultou em algo que chamam de móbile e, diante da respiração tranquila, da ausência de choro, da sensação de bem estar, deitou-se com a certeza de que havia superado mais esse não se sabe o quê, não seria dessa vez ainda que a angústia se apossaria de sua vida levando-a para a não-existência. Na manhã seguinte acordou com o mesmo desânimo do rotineiro não se sabe o quê e o dia anterior perdeu-se na insignificância de um sonho bom demais para ser real. Refugiou-se nas palavras mais uma vez, brigou consigo mesma, alterou a respiração e transformou a face, tudo sem saber direito de absolutamente nada e ainda assim sabendo exatamente de todas as fisgadas.

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1 comentário

Karine Melo agosto 24, 2010 - 4:44 am

Alexandra, que perfeito!

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