A peça estava marcada para as 21horas na Consolação. Era 18horas e eu começava a fazer uso de um rodo na Vila Maria. De cima: tinha-se água. Para frente: tinha-se água. Para esquerda: formava-se um rio. A direita era o que restava, mas seguir até a Avenida era impossível. Àgua, água, água. A metáfora do dilúvio começava até parecer mais literal.
Optei, na falta de opção, seguir sentido contrário no único ônibus que conseguiu fazer o mar da Avenida se abrir, e por sinal estava vazio, contraditório ou não, ninguém pagava para ver a descida em Santana. Era certo que uma longa jornada me esperava, e o pensamento foi “vou cumprir a promessa de terminar o Zaza essa semana”. Vã ilusão achar que tamanha concentração fosse possível em meio ao saracotear de formigas molhadas. Ao contar também que a certa altura a bexiga já implorava socorro e o corpo enrijecia com o frenesi descabido – o caos começa a conseguir transpor-se para dentro de mim.
Cruzar a Marginal Tietê foi o pico da divagação. Num reflexo de visão minha mãe, tendo um de seus colapsos nervosos diante de uma água corrente de rua, apareceu para ver aquele mar de lodo com aspecto de tamarindo e, sim, tamarindo do Chaves, aquele lixo circundando, boiando, cheirando, causando.
Posso não ter lido muita coisa do livro devido à situação do dia, mas as 20horas dentro daquele ônibus passando pelo Pari, eu desejei muito a possibilidade do ideal de um “super homem”. E ecoou na mente “Om mani padme hum”.
Aquela mistura de trânsito com deserto. Aquele choro circular. As 20horas e seus minutos o abandono do ônibus para caminhar. Aquela mulher ao telefone. Aquele relógio tocando. E o quanto eu quis voltar para oferecer um abraço.
21horas, Consolação, lá estava eu.
Alexandra Deitos, como outra qualquer.
1 comentário
Caramba! Que dia! Que noite!
QUE CHUVA!!!!!!