Alexandra Deitos
Alexandra Deitos
Nasci numa cidade interiorana do Rio Grande do Sul, onde vivi os primeiros anos da minha vida até terminar o ensino médio. Então, ainda menor de idade, saí de casa e vim parar na cidade de São Paulo, onde estou até hoje. Na área das Artes e Design me formei Bacharel em Têxtil e Moda pela Universidade de São Paulo | USP e Atriz pelo Teatro Escola Macunaíma, entre outras pequenas formações aqui e ali. Atuei na cena cultural através de projetos de light design e traje de cena por mais de uma década, quando inesperadamente me encontrei no caminho com o mundo canino. Estudei Comportamento Animal e o uso de metodologias educativas com enfoque Positivo e de Bem-estar Interespécies com Dante Camacho, Tudo de Cão, Universidade de Edimburgo, entre outros. Fundei a Pompom's House. Um espaço de hospedagem, convivência e socialização canina, onde, no momento, exploro minha experiência em Educação e Comunicação Canina, Manejo de Grupo e Diretrizes para Sociabilização. Você pode me conhecer de um desses períodos da minha vida. Ou, ter acabado de saber da minha existência nesse mundão. Não importa. Fico feliz que estejas aqui, e espero que algo do que eu compartilho seja troca e partilha contigo.
A1 – Vai ficar trancada por quanto tempo?
A2 – O tempo que for preciso para a dor passar.
A1 – E se para passar a dor fosse preciso sair?
A2 – Se assim fosse, eu saberia e sairia.
A1 – Não acredito que saberia.
A2 – É, provável que não… eu nunca sei de nada.
A1 – Então vamos sair?
A2 – Não consigo.
A1 – Eu te ajudo.
A2 – Concordando comigo que eu nunca sei de nada?
A1 – É que eu não sei de nada.
A2 – Pois é. Não sabemos de nada, então vamos esperar passar a dor pelo menos.
A1 – Não me parece que deveria ser assim.
A2 – Também não me parece que deveria existir sentimentos unilaterais, mesmo assim existem.
A1 – Não gosto de conversar com você.
A2 – Nem eu.
A – Mas é tudo que nós temos.
A1 – É.
A2 – É.
A – Você já comeu o amor? Qual o gosto?
E – Comi uma única vez e não me lembro.
A – Eu não sei se comi o amor.
E – Não?
A – É… Não tinha rótulo, sabe?
E – Não deveria ter mesmo.
A – Mas… Sem rótulo, como saber o que estou comendo?
E – Paladar.
A – É?
E – O gosto era de arroz doce com canela, pensei que o amor podia ser isso e pronto.
A – Hum. Canela tem gosto de terra, amor não é terra.
E – Claro que é.
A – Então o que eu comi não era amor mesmo.
E – Pode ser que o amor que eu comi tinha gosto diferente do seu amor. Pode ser não, de fato é assim: único.
A – Então o amor é como roupa de grife?
E – Não sei… Pela pirataria é bem provável.
A – Descobri! Eu não comi o amor: eu bebi!
E – ?
A – Feito lagoa. Com chão turvo, hora mar, hora rio. Bebi tudinho!
E – Deve ter passado mal com tanta água.
A – …
E – …
A – Sabe que ando bebendo mais água?
E – Metaforicamente?
A – Não. Na real. (mostra um copo cheio de água com peixes desenhados no vidro) Medo de sentir aquela dor no rim…
E – O medo move tudo.
A – Menos o amor.
E – Certeza?
A – O amor é próprio: só e independente. Sem rótulo, não espera nada… nem ser reconhecido… logo me parece bem destemido!
E – É?
A – É!
E – Destemer não significa que o medo não mova.
A – …
E – …
A – Nunca chegamos a lugar algum.
E – É bonito isso.
A – O quê?
E – Não chegarmos.
A – (Bebe toda a água do copo) É bem bonito, mesmo com medo.
E – Mesmo.
1 – Ei, você está atrasada?
A – Dizem que sempre estaremos atrasados.
1 – Então você vai esperar?
A – Dizem que todo mundo sempre espera algo.
1 – Posso te fazer uma pergunta?
A – Dizem que é insaciável a busca por respostas.
1 – Escuta, você só sabe repetir o que os outros dizem?
A – Dizem que nada se cria tudo se copia.
1 – Poxa, e cadê a sua opinião?
A – Dizem que as opiniões são sempre relativas.
1 – Meo, você consegue falar por conta própria?
A – Dizem que…
1 – Caralho, quem é você?
A – Dizem que…
1 – Eu não quero saber o que dizem, quero saber: o que você pensa?
A – O que eu penso?
1 – Ufa. É… E aí?
A – Eu penso no que os outros dizem.
1 – …
A – Você vai dizer que eu estou perdida…
1 – Exato. Pelo menos isso você pensou.
A – Não. É o que todos dizem.
Deixe (-) a
tristeza para mais tarde
chegar com a noite noticiando aquilo que não é
mas por enquanto ainda é.
Em toda parte há motivos para sorrir
sem explicação
sem entendimentos
sem (é) com
a hora dos melhores momentos.
John Merrick não fala,
tem medo de perder pela noite o dia.
Eu digo (escuta) e… desisto,
falar qualquer coisa pode ser perder
a maravilha que é (o) instante.
E quando…
… eu falar
… amanhecer o dia
Terei me ganho?
Esteja certo talvez o ainda quase.
Repita a certeza
o quase que eu não sou (é ser).
Vou lá
Pintar no céu um sol
No copo um peixe
Rosas brancas
Beleza é pedra bruta esculpida.
O melhor que se tem
do eu sou
do que eu penso que sou
do que quase sou
(ou ainda não sou)
Amor é sempre incondicional.
Espero transformar
alegria (em) alegria
destes os seus mais felizes
os meus não duvide
por hora é o que é
deixe o que não é para mais tarde
(e a profundidade sempre me mostra o quão rasa sou)
estou vendo agora o fundo
agora
o mais tarde.
E – Nessa vida tudo se resume em falta de coragem!
A – Falta de coragem é a mesma coisa que medo?
E – É.
A – Tem certeza?
E – Não.
A – Tá…
E – Nossa… que saco!
A – É. Saco…ocaS. As coisas são ocas como um saco.
E – Saco de saco, e nada a ver com escrotos ou testículos…
A – É…saco de saco. Igual o do tio do saco que leva criançinhas.
E – É.
(silêncio)
A – Só tenho mais dois bombons e uma tarde inteira.
(silêncio)
A – “Talvez o difícil não seja fugir da morte, qualquer um sabe correr dela. Bem mais difícil é fugir da maldade, que corre mais veloz que a morte.”
E – Toda criança foge do tio do saco, eu acho.
A – Mas o saco não tem nada a ver com essa citação…
E – Tem certeza?
A – Não.
(silêncio)
A – Que saco!
(silêncio)