“Quem é o espectador que me acompanha? Com quem eu diálogo, com quem eu posso me medir, que possa me dar retorno se um pequeno detalhe que meu ator trabalhou durante horas e horas será ou não eficaz?
(…) Atualmente, existem ao menos quatro.
Existe uma criança. As crianças, quando ainda pequenas, não têm a capacidade de abstração. É muito importante fazer um espetáculo que uma criança de três anos possa compreender. Então, eu trabalho de maneira a realizar um esqueleto dramatúrgico essencial e simples.Existe também um espectador surdo. Através do visual, eu devo lhe contar aquilo que as palavras não lhe contam.
O terceiro espectador é cego. Tudo repousa então sobre a maneira com que eu crio o silêncio, com que eu crio o espaço através da voz. A voz lhe dá a sensação de que ele pode relaxar ou prestar atenção porque alguma coisa está lá. Tudo isto em relação ao texto, o que quer dizer uma montagem que, por um lado, utiliza as possibilidades sonoras da língua, e, por outro, todas as associações semânticas que ele pode nos fornecer.
O quarto espectador é Jorge Luis Borges, o homem que leu todos os livros. Então, o espetáculo vai estar repleto de detalhes, associações, citações que somente Borges vai compreender. ”
EUGENIO BARBA
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Eugenio Barba – Engenhando
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1 comentário
(conheço esse texto…)
Esses Jorge´s Luis Borges são uns rabugentos! Parece alguém que eu conheço…