Sobre estar em cartaz

por Alexandra Deitos

Longe de todo o auê, todas as dúvidas, felicidades, egos, dissabores e tudo o mais de natural que nos invade em sensações quando se tem um trabalho pronto… O que fica de essencial?
Ser assistida é um momento de sensações imensuráveis, mesmo sendo a platéia um único humano no meio das cadeiras cheias de ilusões.
Mas o que me acrescentou?
Eu levo muito tempo para digerir tudo, sempre levei. Longos pensamentos e divagações… Mas um fato é que um pouco sempre vou concluindo, e um pouco no momento que se conclui sempre é o todo daquele momento.
É de uma natureza invisível a escolha de estar no palco, de atuar. Pensando sobre escolhas e caminhos cheguei ao ponto onde não sei definir quem escolhe quem: o eu e a arte! E assim como creio na impossibilidade de ser considerada a dissociação entre o poeta e sua poesia, também passo a crer nesta mesma impossibilidade para o ator e sua atuação.
O ator é um alguém movido pela curiosidade. A mente humana é o campo de batalha dos pensamentos e o ator é o humano na busca interminável de respostas para as dúvidas do seu personagem, que são nada menos que suas dúvidas. Quando não existe essa busca da dúvida no humano, não haverá no ator e consequentemente teremos uma atuação que morre na boca do palco, que não chega até a platéia, que não a leva até a catarse. Falando puramente em energia: aparenta um bom trabalho, mas não toca, não traz sensações.
O ator se torna um mero recipiente de idéias, um marionete controlado por fios –autor/diretor/vizinho/opiniões quaisquer – e não um instrumento regido por uma mente consciente e precisa, afinada e pronta para o jogo teatral.Disse alguém que: “A dúvida pode ser incômoda, mas a certeza, por outro lado, é ridícula!”
Essa é a arte de agir, reagir e interagir. De criar, manter e destruir. A arte de elevar o homem à condição de um Deus em seu próprio Universo.
Dou-me conta do quanto significa a entrega total ao palco…. sem limites. Do quanto precisamos cultivar essa entrega, lutar por essa abertura sem dimensões na busca ininterrupta de doar-se ao amor. Falo sobre um amor incondicional à arte.
E pensando nesse fator de estar em cartaz, o mais concreto que tenho é uma sensação desta certeza: não fiz o melhor possível, mas fiz tudo de melhor que tinha no momento!
Confuso? Acho que não…

Alexandra Deitos, engenhando!

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1 comentário

Anônimo junho 4, 2009 - 4:28 pm

Sinto saudade do palco.. :o/ De Portugal :o))))

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