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A poesia que passa por mim, que eu respiro, que eu toco, que eu degusto, que eu vejo, que eu ouço… Será que ela também passa por você?
São coisas tolas que me inquietam.
Dizem que as sensações não podem ser comparadas. Que não existem parâmetros para definir sensações entre pessoas distintas. Será que isso é fato mesmo?
Como eu desejo.
Quando aquele arco-íris de cores múltiplas entra na minha pele, quando aqueles aromas indefiníveis me levam a outros mundos, quando a boca seca da falta de silêncio ou de acúmulo de palavras que não saem, e quando escutar passa a ser de uma atenção total e meus olhos não sabem mais o que ver em meio a tantas belezas.
Enquanto tudo me leva ao êxtase saboroso e inexplicável da poesia mais adocicada, o que será que passa por você? O que será?
Eu descomponho-me. Deliro. Eu necessito saber. O que passa por você? Como passa por você?
Coisas diretas nunca obtidas.
Percebo que não posso perguntar. São coisas maiores. A grandiosidade da poesia que me transpassa me impede de conseguir tocar no assunto. Será que acontece o mesmo com você?
Dizem que a poesia é tola. Que a poesia nutre-se de tolices para iludir o próprio poeta. Penso que tolices tolas só são existentes para quem não vive a terceira margem. Será que, como eu, você se entrega as ondulações da vida?
As regras estipulam fases e situações. Também delimitam ordem para essas fases, bem como finais. Tudo predeterminado, todos os estágios. Como se sentir fosse racional. Como se a poesia necessitasse de estruturas e rimas para existir.
Sentir que é diferente.
Saber que o tempo é sempre exato, que a estrutura pode ter fases aleatórias e que tudo isso vira uma poesia orgânica, fluida. Muito mais linda. Muito mais sincera. Será que isso passa da mesma forma por você?
Alexandra Deitos
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respirar!