Pode tudo ser uma coisa só, como pode também não ser

por Alexandra Deitos
pare de dizer que não repara,
minha alma reflete a calma
de um pássaro na prisão.
como algo que disfarça,
eu sigo achando graça da falta.
se um animal é mal
é mais bom que nós,
e se o mundo é injusto 
é mais justo que nós.
feito um sonho bom,
transforma em mais próximo
o pesadelo humano.
então, pare!
não finja que não repara,
que não somos nada,
que nunca seremos,
nunca mais do que já prevemos,
pássaros na prisão,
animais que não se aceitam,
espelhos que se enganam.
e as bocas continuam a falar da alma.
e os olhos a transbordar da alma.
e as mãos continuam vazias.
e corpo todo fingindo gesticulações,
como um algo que disfarça,
eu sigo achando graça.

Se a minha cabeça saísse do corpo agora
Eu não acharia graça nenhuma
E se de dentro do meu corpo agora
Borboletas cinzas batessem asas 
Para ainda mais dentro de mim
Eu também não acharia graça nenhuma
Não me deixe só com minha solitude
Por mais digna que ela seja
A minha boca está seca de admiração
Entreaberta está secando mais e mais
Até onde o fruto cadáver não saciará mais

“Fito-me frente a frente
E conheço quem sou.
Estou louco, é evidente,
Mas que louco é que estou?
É por ser mais poeta
Que gente que sou louco?
Ou é por ter completa
A noção de ser pouco?
Não sei, mas sinto morto
O ser vivo que tenho.
Nasci como um aborto,
Salvo a hora e o tamanho”
Fernando Pessoa

As referências de uma vida nos fazem sermos mais de nós mesmos?

Ou nos fazem sermos multidões brigando por poderio?
O que vem depois de nós?

Quando nos encontramos de fato, o que acontece?

Existe mesmo esse depois?
Quem canta a canção do agora, do outrora e do amanhã?

Será que é tudo um ideal muito distante?

Ou uma realidade um tanto subversiva?
Onde reside a certeza ou a falta dela?
Se os batimentos nos trazem alguma certeza, é também certeza que o desfalecimento da imagem numa noite de sonho nos dá o vazio debaixo dos pés sem asas. A luz e a escuridão são dependentes um do outro, e talvez sejam um só (a luz e a sua inexistência). E nós humanos, somos dependentes do que? Qual nosso oposto complementar?
Pode tudo ser um pensamento só. Pode ser quatro pensamentos distintos. Pode ser nada. Pode ser tudo. Também há o “se”. Se isso ou se aquilo resulta nisso ou naquilo. E se… E se… E se…

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4 comentários

Cristiano Contreiras maio 13, 2010 - 4:32 am

Interessante sua forma de falar e expressar seu mundo por aqui – dedicação eu vejo, mas sinto mesmo é sua sensibilidade a pulsar.

te sigo, Alexandra!

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Leco Vilela maio 12, 2010 - 12:59 pm

Resposta do teu comentário:

"Pois é… somos filhos dessa situação. Dessa sociedade, independente de nossos desejos sexuais e afetivos!

E não tinha pensado sobre esse olhos verdes da Clarice, mas agora que você disse, está bem relacionado! Acha inconsciente pra tanta informação, não?

heheheh!"

Meu comentário:

Adoro quando você vai além das linhas do caderno e desenha com as letras. E olha o "SE" da nossa conversa no msn refletindo ai! hehhehe

beijos

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Filipe Morósofo maio 11, 2010 - 7:15 pm

Rsrsrs, eu é que agradeço, gostei do que escreveu, ler algo que tenha alguma substância tem se tornado cada vez mais difícil por aqui, não sei se eu que sou chato demais ou se faltam pessoas interessantes.

Enfim, cheguei aqui no seu blog por ter visto teu perfil em um comentário no blog "Páprica doce" Enquanto vagava por aí ^^

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Filipe Morósofo maio 11, 2010 - 2:38 pm

O homem fugiu da natureza, tenta ao máximo se opor à ela, o homem é o anjo caído e a natureza é o paraíso de onde ele foi expulso, então, se um animal é mal, é nós que somos, na verdade, se a natureza é injusta, é o homem que é e a Natureza mantem-se justa.

No fim das contas estamos todos sozinhos, se não considerar à si mesmo uma ótima companhia, a mais fiel, pois só você vai contigo até o fim.

A nossa vida nos dá a experiência pra ser, o resto é só escolha.
Depois de nós ainda está muito longe, é indizível o que acontece quando chegamos lá, é melhor não pensar sobre essas coisas enquanto ainda estamos aqui, é disperdiçar a dádiva do presente pensando no futuro, e o presente é só o que existe, o agora em que o mundo marca o compasso pra fazermos uma canção.
Toda realidade é maluquice que cada um entende como quer, toda certeza do mundo é errônea, ainda assim, não há nada mais certo que a sua própria certeza, se realmente acreditas nela, pois ela é a sua realidade.
Nossa dependência depende do que achamos que somos.

É uma resposta só pra uma séria de um pensamento só. (ou não? rsrs)

Gostei das divagações ^^

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