Partes de si

por Alexandra Deitos
Espirei dias e dias, a certeza de ter um nariz nunca foi tão presente e ao mesmo tempo tão ausente. A boca rachou, inchou, desfigurou. A pele ardeu, coçou, ressecou. Os olhos choravam sequidão. A língua cortou. Até um dente caiu. Eram incontáveis as parte do corpo presentes e ausentes, gritando para serem encontradas, perdidas, solitárias. E o coração, desritmado como sempre, ficava calado, sem entender e sem querer entender. Estagnado na sua pulsação mecânica ele era a mais covarde de todas as partes. Até a garganta, em suspiro gelado, desabituada ao mundo, gritou.

Deixe uma resposta para Sujeito OcultoCancelar resposta

1 comentário

Sujeito Oculto setembro 8, 2010 - 9:30 pm

eis uma certeza: a garganta nunca há de adaptar-se ao mundo. E não a force fazê-lo, estaria comentendo um dos piores crimes contra si mesma.
(a página tá linda!)

Responder

Você pode gostar