Dessentir

por Alexandra Deitos
A temperatura foi caindo e o frio chegou naquela tarde de domingo, não foi surpresa, afinal estamos no inverno, havia uma blusa minha lá, suficiente para não ficar o desconforto do frio externo no corpo que tremia por dentro. Havia o tempo e eu não o possuía, porque eu nem sabia como colocar toda a vida que eu desejava naquele curto momento do fim, eu apenas tentei sorrir evitando o choro inevitável. Queria que não ficassem lágrimas no estar com ela, queria apenas a doce alegria de contemplá-la – só por hoje – mas os olhos não colaboravam, a vida não colaborou. Quem foi que disse que querer é poder? Tentei o silêncio, não havia mesmo muito para dizer, tudo soaria apelativo e desnecessário, assim falei pouco, encostada na pela mais doce, contentando-me em escutar as batidas do coração mais belo.
Eu choro picado porque talvez a minha ilusão seja sofrer menos assim – uma dor picada, dosada para não desfigurar. A imagem não ficou boa nas palavras e é bem provável que na realidade também não fique e nem funcione. O que se sofre por dentro é sempre inenarrável e muito maior do que se externa.
E desapaixonar sem afastar… Como será isso possível? Desfazer um sentimento é coisa tão estranha que me parece que não existe. No máximo você transforma um sentir em outro sentir… não é? Alguém me explica alguma coisa? Eu quero um colo e um mimo, porque eu desconfio que a minha paixão já não é, e quando se perde o controle, as razões e os nomes dos sentimentos, pouco sobra de dignidade. Saber sem saber o quanto profundo é o que se sente é a maior perdição.
Há tanta coisa dentro de mim querendo um espaço para sair. Há tanta ressaca em meus olhos vermelhos, verde-águas de pálpebras inchadas. Há tanta paralisia diante da vida que se impõe, do outro que eu respeito, do eu que se apaixona só, do que se quer e não se pode. Há tanta coisa… Tanta coisa que é inevitável… Eu vou continuar olhando-a com olhos bobos, desejando seu mínimo olhar, sua máxima alegria, contemplarei tudo aquilo que é a maior beleza da minha doce ilusão apaixonada… pateticamente idiota no meu amor de menina. Assim como sabemos que ninguém manda no coração, o dessentir não existe como prometi – eu não devia ter prometido. Como ela não conseguiu se apaixonar… como eu não conseguirei me desapaixonar… como só a vida se encarrega de tudo, inevitável também é sentir a dor de ser nada. Inevitável é a dor.

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2 comentários

Karine Melo agosto 3, 2010 - 4:46 am

Menina, concordo tanto com tuas palavras… é muito difícil mesmo desapaixonar, desapegar…

A dor é inevitável, mas um dia, não sei quando, a gente sabe que passa.

Eu adorei o teu texto do começo ao fim!

beijos, flor :*

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Leco Vilela agosto 2, 2010 - 8:48 pm

Existe caminhos de aprendizado sem a dor… cada dia que passa percebo que a dor é uma escolha… incosciente, mas ainda assim uma escolha.

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